Depois de meses sem aparecer aqui, eu voltei. Espero que tenham todos ficado alegres!
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Já dizia a canção que é melhor ser alegre do que triste. Concordo plenamente com essa máxima melódica. Até porque, com saúde nos músculos e ossos, com dinheiro nos bolsos e nas bolsas ou mesmo cercado de pessoas com as bochechas rosadas, quem haveria de preferir a tristeza, não é mesmo? Mas como se para nem tudo houvesse resposta, sugiro: e por que então a tristeza existe? Não falo da tristeza momentânea, da tristeza por perder a Copa; falo de uma que desafia até os limites da vida; falo daquela que é quase existencial. Falo da tristeza que vai e vem, querendo ficar. Uma tristeza tão absoluta que faz qualquer um perder de vista o tempo em que éramos todos felizes. Rabiscando a minha mente, cheguei a uma fraca conclusão (mas que ainda me serve como guisa): a tristeza, aquela profunda, se bem entendida, nos fazendo sofrer, nos permite ainda lutar contra o sofrimento. Porque ninguém, mesmo estando demasiadamente triste, deseja permanecer triste. Tristeza é passagem, enquanto que a felicidade é desejo de permanência. Mesmo estando tristes, os tristes lutam contra si mesmos. Ainda que as forças não sejam suficientes, elas têm o que é mais importante: um coração que não deixou de sonhar. De acreditar que poderão ser felizes novamente.
Um coração que não deixou de sonhar
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
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Feliz ano que chega
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
Para velhos relógios do novo ano!
Um é passado, o outro é presente. Num curto espaço de tempo, vêem-se sonhos e desejos sendo administrados da maneira mais mágica que poderia acontecer. Os fogos de artifício anunciando que um céu cada vez mais colorido se fará presente a partir de agora. Os mares saudando os milhares de pés que se fazem sereias pelas praias do lugar. Crianças e adultos deixando escorrer dos olhos água limpa que pede passagem pelas bochechas e lenços.
No entanto, longe dessa cena, dentro de uma pequena casa, há uma menina sentada. E ela não quer participar em nada dessas coisas. Não quer porque tem seus motivos. Não quer porque não se encantou como todos os outros. Por muito insistir, ela se atreve a falar enquanto corta um pão de sal.
Ela não acredita nessa história de “ano novo”. Aliás, pra ela é só mais um que chega. E chega como chega qualquer dia da semana. Chega como qualquer segunda, terça, quarta ou enésima. Como qualquer caminhão que faz entregas em dias comuns. Acha que essa história de ano novo é piada. Pura piada. De novo não há nada. Porque os desejos são todos de ontem. São todos de antes.
Mas a raiva não é do ano que chega, a raiva de como eles esperam que ele chegue, ela diz. Ele chega já cheio de obrigações. Ela acha que o ano não se inaugura. É um ano pré-moldado, ela completa. Já sabem o que vão fazer, quanto vão gastar, o que vão comer, vestir ou beber, ela atropela. Ou seja, não há novidade nenhuma. A diferença é que na noite da virada, as pessoas não dormem, como fariam em outro dia, ela desabafa.
E sobre a felicidade das pessoas ao olharem o sol esfogueando-se; ridículo! Porque amanhã mesmo o glamour terá cor de cinza, ela se descontrola.
Vendo-a falar dessas coisas todas, me fiz lembrar de algo que não se deu conta. O ano que chega tem lá seus problemas, sim. Mas muita coisa não caberá nas agendas. Será surpresa. Surpresa como a árvore que nasce, como o vôo solitário, como o bebê que chora sem que lhe peçam, como a fé que retorna ao buraco do meio do corpo, o coração.
Buraco fundo o bastante para caber tudo de novo do feliz ano novo que chega: os novos olhares, os novos sabores, os novos sonhares, os novos amores.
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Marcadores: feliz ano novo
A mesma coisa
sábado, 6 de dezembro de 2008
Longe de ser uma descrição sobre o que é o pensamento e o respeito ao pensamento alheio, reflito vagamente sobre como deixar escapar pensamentos individuais em tempos modernos de reflexão coletiva. Mesmo porque hoje é "normal" todo mundo pensar a mesma coisa. Sobre os fatos. Sobre a vida. Pergunto-me se parece esse caminho ser o mais fácil? Na escola, nos estádios, em frente à televisão, pensamos todos a mesma coisa. Sobre a menina que repousou perigosamente sobre a grama depois de ser lançada da janela do sexto andar pensamos todos a mesma coisa. Sobre o balançar das "palafitas" financeiras ao redor do planeta pensamos a mesma coisa. Sobre o problema das águas que caem desesperadamente em lugares que estão longe de serem os rios e os mares pensamos a mesma coisa. Quero mesmo o direito de pensar diferente! E agora entra outra parte da questão: como vivem aqueles que se atrevem a fugir da regra correm o risco de serem implodidos antes que o dia acabe (Tenho medo de entrar nessa lista também). Porque às vezes me assusta a maneira como as pessoas têm de desafiar o pensamento dos outros quando este não é o mesmo que o seu. Ai daqueles que não se compadecerem com as vítimas das águas, ou ai daqueles que continuarem comprando em tempos de notas de consumidores de um dólar à mão. Ai daqueles que não se aquietarem em seus sofás e esperarem o dia clarear pelo próprio movimento dos raios do sol. Defendo que a ordem natural existe, mas mesmo ela, a Natureza, precisa de co-operadores. Alguém precisa abrir a janela da sala se quiser ver o sol mais de perto. Alguém precisa fazer o suco se quiser saber por que a manga é tão doce quando madura. Não sejamos terroristas anti-racionais. Deixemos livre o exercício do pensar. Esses terroristas armam estrategicamente planos em lugares secretos e, no momento em que fingem-se não existirem, saem explodindo os castelos de cartas daqueles que estão desacostumados a pensar. Confesso que pensar é uma coisa difícil. Porque primeiro é preciso ouvir; a si próprio e aos outros. E é nessa hora que o nosso pensamento escapa como programação de TV que vai aos comerciais e volta já-já. Quer ver uma coisa? Você ficou aqui acompanhando esse raciocínio que é só meu e eu o limitei a pensar como eu, nessas linhas, enquanto você me ouvia. Nem sempre é tão fácil fugir à regra. Alguém pensa diferente?Se a idéia lhes parece absurda, dêem respeito. A cada um é permitido o direito de pensar. E mais que isso. De pensar pensando. Já "pensavam" os filósofos gregos quando em dias de sol ou de chuva se punham a pensar, a pensar e a pensar...estabelecendo inúmeros tratados sobre a verdade das coisas. A forma como foram constituídos não parece se encaixar na maneira como organizamos o pensamento dos nossos dias.
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O filho de Obama
terça-feira, 11 de novembro de 2008
E sabe por que papai escolheu ter um filho aqui?
Depois de escolher o Quênia como lugar para nascer seu pai, os Estados Unidos para sua mãe, a Indonésia para ver as cores da infância e o Havaí para fazer nascer as idéias da puberdade, my big daddy viu que era bom que fosse aqui o melhor lugar para seu filho nascer.
É isso mesmo! Obama sabia de tudo. Sabia o que era bom e o que era ruim. Ter um filho latino-americano significa estar num lugar estratégico onde o presidente norte-americano deve estar.
O passado no Quênia lhe garante humildade, os Estados Unidos garantem-lhe legalidade, ter nascido no Havaí significa vir de um lugar altamente multicultural, com raízes ancestrais polinésias misturadas a uma essência européia bastante particular. E foi essa campanha das diferenças que papai utilizou durante toda a campanha: de que, como um novo tipo de liderança, ele era de todo o lugar.
Parece que vou querendo convencê-los de que minha tese tem valor. Não se iludam. Não é agora que a nossa família vai realmente mostrar a que veio.
Papai me deixou esperar por esse momento muitos anos. E todo ano ele dizia a mesma coisa: Calma, meu filho! O tempo certo vai chegar. O tempo onde todas as diferenças serão o grande charme da história. O mundo cansou da igualdade. Eu preciso de você aí, onde você está.
Eu não entendia direito o porquê de eu não viver com eles na América e ter que esperar pelo “novo dia”. Mas papai me deu a resposta por telefone assim que derrotou aquele Velho Sem Graça.
(...)
Como agora eu sou um menino do Estado, minha vida tem segredos de Estado. Mas, talvez pensemos que ter vovó na África não é muita diferença nos planos de papai, que nossos tios no Havaí tampouco têm muito a oferecer; no entanto, eu, aqui, posso ajudar papai a tornar a vida dele mais fresca e o quintal deles mais verde.
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Marcadores: Obama
Ausência e Presença
sábado, 1 de novembro de 2008
Primeiro respondo que essa reflexão trará para perto de nós maneiras de lidarmos melhor com o buraco do nosso meio: essa vida.
Ao olhar a natureza das cores, das sombras e dos sabores, é possível entender como um pouco de ausência e de presença fazem toda a diferença. Imaginemos se num belo dia de sol tivéssemos menos horas para desfrutá-lo? Com certeza a ausência dessas horas traria pouco sentido à presença de tanto sol, não é? Ou se no momento em que ele se põe pudéssemos estar presentes para apreciar tamanho espetáculo? São poucos os que, nessas horas, assinam tal lista de presença.
Fico ainda a pensar como faz sentido que a presença dos sorrisos, abraços, suspiros é o sinal de que as dores não se fazem presentes. Nesses casos, é preciso enxergar sob a ótica da ausência o valor que a presença das coisas tem. Ou se puder, fazer o contrário. Como se na hora em que nos despedimos do melhor amigo quando ele vai embora de nossa cidade, uma ausência iminente fizesse com que o tempo passasse lentamente e tivéssemos mais tempo para desfrutar a presença dele. Na fuga da presença, a ausência assume um lugar poderoso dentro da gente e se converte em saudade. E, ziguezagueando, verifico que, apesar do desejo da presença ser maior, a ausência é imperiosa. Justifica-se porque somente a falta machuca, constrange, adverte. Ela se espalha no momento em que ficamos sozinhos e apertam-se as dores, negando-se a mesma ausência. Coitados daqueles que se “divertem” na escassez dos seus dias. Ou talvez aqueles que, no afã de sufocar as ausências, abarrotam-se de coisas a fazer e deixam o stress estar presente.
Confesso que isso, esse jogo, não tem fim. No entanto, sugiro que olhar a vida por qualquer desses ângulos exige cuidado. Se é sorrir para não chorar, ou sofrer para não amar, ou mentir para não contar, tudo isso é deveras perigoso. Se num momento estamos e, num outro, o vento nos leva pra longe, importa que sejamos. O importante de hoje é que tenhamos cuidado ao perceber que a presença de algo já não é o que era, ou seja, o novo sentimento é uma ausência presente.
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O novo gosto das coisas
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Para aqueles que sentaram aqui e esperaram eu contar mais uma história antes de dormir.
Mas não vejo que isso revele-se tão emocionante assim. Por que há coisas curiosas nessa nova arrumação. O caminho pelo qual caminha a humanidade parece ser bem distante dos primeiros passos humanóides. E não por que temos a maravilha tecnoeterna. Mas porque a ordem agora é outra. Somos, de fato, antropocêntricos e essa nova arrumação é coordenada por nós. Pergunto: por que os passarinhos não cantam tão alto quanto antigamente e a harmonia deles é cada dia mais desarmônica? Todos eles têm andado tão subtonados, como se tivessem perdido os ensaios das orquestras do desenvolvimento e a vaga de solista fora entregue às grandes máquinas barulhentas que cantam em lá – ré – dó. (Lá do outro lado, ré-sta um barulho mais dó-loroso que o outro).
Nessa pressa de fazer com que tudo tenha a nossa cara, o nosso jeito, jogamos fora a lei natural das coisas. Solicitamos às nossas autoridades os indicadores “socio-arvorômicos” das nossas florestas. Queremos saber quantas elas são, quanto medem, o que produzem... já se fala até em “expectativa de vida para essa população”. Rá...parece até piada essa idéia de que nós somos os cuidadores da Natureza.
Que não tenham sabor panfletário, mas essas idéias não partem de aqui. Apesar de poucas, são pontuais as idéias daqueles que se recusam a fazer parte dessa casa de aço a morar numa oca joão-de-barriana. A vontade que eu tenho é de que a cada dia diminuam nossos desejos e aumente a naturalidade das coisas (que anda tão bissexta ultimamente). Que os rios voltem a adentrar as cidades, que o mato verde cresça por entre as calçadas. E que percamos a vontade de fazer desse mundo a nossa casa. Ele não é nosso, senão dos que se integram às suas origens.
A deseducação
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Àqueles que, involutariarmente, jogaram os sapatos em mim. Eu vos agradeço.
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E aí mandam a gente pedir desculpas.
Desde que somos criancinhas e, levianamente, jogamos comida na mamãe, ela olha e diz não pode e peça desculpas à mamãe. E obedecemos, como pequenos aprendizes de uma arte que carregaremos ao longo de nossas vidas.
Na visita dos parentes distantes, ao passar pela sala, o menino é ensinado a pedir desculpas quando for atravessar alguém, pedir desculpas quando sorrir alto ao achar engraçado a roupa feia da titia, pedir desculpas quando o copo de café quente é derramado sobre o tapete vermelho da sala. E, nós, os articuladores dessas ‘belas’ histórias, inventamos esse mundo de formalidades para que a presença viva do novo não nos assuste tanto.
Tudo nasce como fruto de uma profunda desonestidade e essas palavras mágicas surgem como se não houvesse outro remédio. A cada hora que passa, um escreve com a mesma caneta o sermão de mentiras que o outro deseja ouvir. É também o namorado ligando para a namorada e pedindo desculpas pelo flagra no motel com a outra. Ai...essas histórias de convivência, essas conversas de boa educação vão nos tornando cada dia menos sensíveis.
Dia desses, ouvi uma história engraçada de um garoto que teve que pedir desculpas ao coleguinha porque o chutou na canela na hora do futebol. E eu pergunto: de que adianta o afago das palavras se o íntimo já não atende mais? A presença delas somente alivia o peito e reforça a falsa educação que atendeu um chamado. O menino crescia em ódio, mas a boca foi obrigada a falar nunca mais farei isso de novo.
Nesse diagonal que é a vida, há espaços também para os pêsames, as calamidades, as situações de desagrado. O mais curioso é o pai se torturar por dentro ao repetir cuidadosamente as desculpas pelo caminhão de brinquedo que não apareceu no Natal do filho. Por que não deixar as arestas das palavras? Por que arredondá-las?
E assim eu penso, pra que servem tantas desculpas quando, na verdade, o que mais queremos é ser insistentes nas nossas ambições. Pedir desculpas pela alegria, pela irreverência, pela ambigüidade? Nem pensar.
Dentro disso, não peço desculpas. Vivamos em entregar a cada um o que merece. Afagos e honras aos que nos deram flores. Certificados de inglória àqueles que cruzaram o caminho com facas em mãos. Quem ignora o espontâneo é porque tem medo dele e se aquece em meio aos arames farpados. Acho justo que ninguém deva satisfações. Que sejam bem-vindos os carinhos perigosos das verdades.
Postado por Mota às 19:02 10 comentários
Marcadores: bom gosto, bom senso, bons modos