Num sei...mas o texto passado revelou-se confuso.
Pardon moi.
Mas eu falo mesmo. Deixai a preguiça.
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Naqueles dias chatos e sem luz a vontade que tem-se é que uma abelha rainha pouse na cabeça e chame as operárias ao trabalho. Preciso de gente.
E quando nada acontece, lembra-se que esse jeito cabuloso de se afastar mais é resultado de uma esfoliação genética, dizem os cientistas.
A cada minuto, menos íntimos nos tornamos. Menos da minha-sua vida sei.
Relações tão feitas distantes. Homens e mulheres que nem as bocas abrem.
Chamemo-nos: é hora de contarmos fofocas sobre a vida alheia!
É hora de abrirmos o verbo. De inventar estórias e estar pronto para a briga.
Digo, com isso, que pimenta é refresco.
Nessa hora, abre-se o circo e soltam-se os leões.
Vamos tornar mais quentes esses dias de chuva. Fazer soar áspero o doce som da quietude. Ô gente, tragam-me ruídos no café.
Vamos dizer aos quatro ventos que ser humano não é normal. E que só as plantinhas são razoáveis nesse mundo. Dançam e se divertem e nem precisam se culpar. De resto, todo mundo é o mesmo pote, sempre.
Em nós, é tudo culpa do córtex.
(E quem matou quem? E quem quebrou o pote de pimenta?)
Pimenta é refresco
quarta-feira, 26 de março de 2008
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A nova Sissi
segunda-feira, 24 de março de 2008
Aquele que vem buscando a coroa, tem-na guardada na lembrança dos orientes perdidos. Dentro de pensamentos contentes quer ser vivo. Quer ser mais.
(...)
É chegada a festa. O xá da Nova Pérsia fará as honras.
No decorrer, tem-se nota de que falta algo na receita do prato de entrada.
O principal ingrediente, mesmo para mim, que já visitei a Europa, a Zorópa, a Etiópia, é saber se comportar com o luxo dos marajás, dos rajás, dos tais carcarás.
Ah... tarefa difícil, quando o que trazes no alforje são verbos sem ações.
Impraticáveis.
Eis o primeiro: saudar. O senhor queria mais prêmios e mais ofertas.
Mas, para quem não habituou-se desde pequeno às reverências, dá-lhe gafes.
E o saudavam dizendo: Salve rei dos Judeus.
Quanta lobotomia.
O chefe requerendo novas ofertas. Dessa vez, cortou-me o cérebro.
E da próxima, o próximo da fila.
Provavelmente, ele, o xá, tem jóias mais poderosas do que essas.
Mas, ser a nova Sissi não é coisa tão comum.
Postado por Mota às 18:12 1 comentários
Saudade
sábado, 22 de março de 2008
Esse texto veio num momento especial onde todos nem me diziam coisas...
Serve pra muita gente, apesar de que ele foi feito sobre e pra mim.
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Que bate na porta da frente e me assusta pela porta do fundo. Que adoece de calor os mais fortes. Faz estragos nas plantações.
Um dia uma árvore virá ao meu encontro para pedir o abraço. O abraço esquecido. O abraço rejeitado por aqueles que um dia eu disse te amo e não mandaram respostas.
O poeta disse que o trem balançava seguindo o ritmo dos trilhos, mas a vida não é bem assim. Se eu sou o trem e os trilhos são o mundo, a saudade é a pedra no caminho que interrompe o percurso e nos leva para longe. Longe um do outro.
A saudade não dói. A saudade adormece. Emudece os olhos. Lágrimas que teimam em voltar para fora.
Saudade do cantor famoso, saudade do pintor honroso, saudade do carteiro que não vem mais. Falta até mesmo da tia que tão bem passava as camisas.
Estou no jeito que a saudade gosta: como um pião desgovernado que vai seguindo um caminho que parece ontem. Porque todas as lembranças são de ontem.
O ontem não vem mais. Os trens não vêem mais.
Rastros curtos de um andarilho distante. Que busca no impensável o gosto do quero mais.
Postado por Mota às 17:28 7 comentários
A herança
Certo dia, Sebastião repousava quando se deu conta de uma terrível e inquietante idéia. Ele não era feliz. Não que ser feliz fosse mérito pra Sebastião, mas Sebastião não era feliz por um motivo nada óbvio.
Ninguém em sua família havia sido feliz até aquela data.
E Sebastião odiava saber disso.
Sebastião percebeu que havia em sua vida vários começos. Porque a humanidade não começa uma vez.
E não foi feliz até aquela hora.
“A razão?”, pensavam todos, “não foi escrita pelas mãos dos cardeais”.
Sebastião buscou na escola a resposta, mesmo tendo grandes respeitos ao mistério. Ele trazia consigo o problema da humanidade.
Ainda era cedo para ficar acertando tais coisas.
Em fotos antigas Sebastião percebeu que o sorriso, a expressão de fúria, a melancolia no olhar, tudo isso acontecia exatamente igual em seu pai anos antes.
Era mais do que genética. Porque não conseguia resolver questões que já estavam com ele há muito tempo?
E pensando assim, Sebastião foi em busca de sua solução maior.
Tudo que ele mais queria era uma mulher direita, casar e ter filhos com ela.
Casou-se com Roberta. A festa, os convidados. Foi feliz com ela durante alguns tempos. Mas, a receita da felicidade era uma grande farsa na qual ele havia se metido.
E ela perguntava o porquê dele pensar essas coisas malucas.
Até que um dia Roberta apareceu na casa dele com uma notícia.
“Estou grávida”, ela dizia.
Ele estava sendo ajudado pelas contradições.
Abriu um sorriso confuso e a abraçou.
Foi feliz naquela hora.
Levou-a até o hospital e na hora da hora, o bebê chorou e ele disse:
- Vai meu filho! Você consegue. E passe adiante!
Postado por Mota às 17:17 0 comentários
É uma questão de tempo
Enquanto Bagdá pega fogo do outro lado do mundo, um garoto entra no MSN e diz em inglês: SAVE THE PLANET! Esse é mais um dos adentes que vivemos nessa tal modernidade. As relações de tempo parecem possuir um caráter tão familiar que pode ser simplificado na fórmula: tempo-sem-resposta.
O pedido do garoto não é incomum, mas parece que é necessário deixar que Bagdá pegue fogo e somente publicar notas e mais notas sobre isso.
O tempo de espera na fila do banco é só mais uma situação ‘catracática’ que permanece. A agilidade do serviço de comunicação, sempre interessado em contar o saldo final do último acidente, não parece ter a mesma agilidade para convocar a sociedade a resolver seus próprios problemas, e as catracas prosseguem.
O passageiro na linha do ônibus não espera a hora de chegar no seu lar e encontrar a ‘novela’ ainda começando.
Esquisito? Não. As notícias que agora vêm em capítulos são tão facilmente digeridas que não faz tanta diferença se o acidente matou trezentas ou trezentas e vinte e três pessoas. Faz tudo parte do tempo.
Programas continuam pulverizando teorias sobre a síndrome de catástrofes do mundo e os telespectadores (inclusive minha mãe) tornam-se experts em comentar os fatos acontecidos. Mas onde estão os experts na resolução desses problemas?
Ela, minha mãe, diz que é uma questão de tempo. Que mais cedo ou mais tarde alguém traz a solução e eu não vou precisar ficar me importunando com tais situações.
Abastecimento de informações.
E meu MSN tá piscando.
Postado por Mota às 17:14 1 comentários
Mãe, vi um artista!
Vi quando eu passava situações complexas, meus dias recheados de saudades. Olhei pras estrelas e pedi ao anjo bom que me desse uma luz. Ele me disse que luz ele não tinha, que ele me daria um astro.
E eu teria que cuidar dele como se fosse meu hemisfério esquecido, meu outro lado da vida que ainda estava por vir, cuidaria como se fosse meu elo perdido!
Revi as estrelas e passei os dedos no papel. Ele tomou forma. E cores. Tinha um aspecto enigmático, como desses galãs de filmes suburbanos. Mas era um artista.
Um artista caído na rede, um artista dizendo um ‘oi’ de uma forma tão simples. Um artista que apreende o confuso. A mão na arte de se entregar.
Perguntava-me se era o nariz vermelho do palhaço que aumentava sua graça... ou se a sua ciência de vida que era espetacular? Mas, meu artista não cabia em conceitos. Duvidada-se. Ampliava-se.
Disso, senti temor. Meu artista tinha outras desventuras. Desconversava. Ria. E eu lembrava.
Lembrava do tempo que viria.
Na cadeira do quarto (o menino) resumia-se. Não queria parecer tão grande, tão difícil. Ele queria quebrar as correntes. Só as correntes. Só queria a violeta despontando no peito. Dizer te amo. Queria uma resposta. Tenho vinte.
Postado por Mota às 17:07 2 comentários